sábado, 22 de agosto de 2015

Is Dangerous.

Você pode ler ouvindo Johnny Hooker - Amor Marginal

  E segurando seu corpo, ainda quente, senti meu mundo caindo ao redor de mim. Não tive coragem de correr, mesmo sabendo que uma arma apontava para mim de algum lugar. Como poderia ir e deixá-lo? Ele acabará de dar o ultimo suspiro em meus braços, mas era como se fosse acordar a qualquer momento, me puxar pela mão e correríamos juntos, pra longe de tudo aquilo. Doía-me profundamente, morria junto com ele, sabia que aquela dor duraria milhões de primaveras a partir daquele dia. Ainda não tinha reação. Ainda não tinha forças. Ainda não tinha cor. Queria gritar, e era como se o meu mundo estivesse em minhas mãos. Era como um sonho ruim. E nesses poucos segundos que se passavam eu tive mil sensações diferentes, e só depois senti o gosto do desespero chegando. Como eu vou sair daqui, e para onde vou? Não tenho mais pelo que lutar. Quem sou eu sem você? A verdade é que a gente não luta só para salvar nossa própria vida, todo mundo luta para salvar uma segunda vida, mesmo inconscientemente, quem é você sem um próximo? Não haveria sentido.
   Numa adrenalina espantosa, numa coragem insana, e uma fúria descontrolada ao ouvir passos atrás de mim, segurei firme a arma que Michael tinha na mão, nunca havia atirado, só sabia que devia ser destravada, de algum modo me virei atirando e antes que o atirador pudesse atirar eu acertei-o com duas balas que perfuraram o peito e alguma outra parte de seu corpo, nem ao menos sei como acertei, nem se quer sei se mirei. Me disseram uma vez, depois de tudo isso, que o medo tem essas coisas a gente simplesmente faz doente por alguma coisa, doente por alguma esperança. Virei novamente para o corpo da unica pessoa que me entendeu durante toda a minha vida e continuei chorando, e gritei, gritei muito, gritei pela vida, gritei para Deus, que nem ao menos sabia se acreditava, gritei por sentir uma dor absurda, uma dor pior que todas as dores que já pude sentir na vida. As perguntas voltaram, olhei ao redor e começaram a vir pessoas correndo até onde estávamos, perguntavam se eu estava bem. "Eu estou bem? Veja você mesmo, cara. Eu pareço bem?" pensei. Com a arma ao meu lado pensei pela milésima vez nas perguntas, pensei no nosso casamento, nos nossos planos de ir para o Alasca no próximo verão, pensei sobre a vez que brincamos na cozinha com chocolate, a primeira vez que ele foi a casa dos meus pais, dos nossos encontros em casais com dois outros amigos. Por fim, nada me fez querer viver aquela vida sem ele, mas quando tomei a decisão de usar a arma alguém já havia a tirado de onde estava, uma ambulância já estava a chegar e alguém puxou ele dos meus braços, e eu chorando, alguém me abraçou e alguém chorou comigo.
    (...)
   Já era noite, e lá estava eu... Já não sentia mais nada, acabará de acordar. Estava no hospital, sentada ao lado da minha cama minha amiga Deb chorava. E foi tudo que eu precisei para entender que não era apenas um sonho ruim, ele realmente se foi(para sempre). Não pude dizer nada, apenas fechei os olhos e novamente dormi. 

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