quinta-feira, 24 de abril de 2014

Amor, a praga do século: O Encaixe perfeito

  Era 03 de Julho de 2018 e logo cedo recebi uma ligação, era telefone residencial e de DDD de Santa Catarina. Geralmente isso quer dizer que é uma ligação do escritório de Gabriel, ou seja ele. E dessa vez não foi diferente.
  Desde as férias nos falávamos quase todos os dias e nos dávamos muito bem, fazíamos planos de ir se ver mas nunca dava certo, ou ele tinha trabalho demais por lá ou eu trabalho demais por aqui. O problema na maioria das vezes era o trabalho.
 - Oi Jé. Te acordei?
 - Oi Gab. Não, eu já tô trabalhando.
 - Hum. Que bom, mas bem que eu gostaria de ter te acordado.
 - Se eu ainda tivesse dormindo nem te atenderia, acredite.
 - Ta bom, enfim, eu vou pra aí na semana que vem resolver uns negócios em Flores da Cunha e conseguir algumas parcerias aí na sua cidade também. Logo que soube quis ligar pra te contar. Eu não to atrapalhando, né?
 - Não acredito! Até que enfim, tô com muita saudade de ti.
 - Eu também estou de ti.
 - Pode ficar na minha casa, se quiser.
 - Ta bem, meu anjo. Falamos disso mais tarde, pode ser? Eu liguei mesmo pra contar a novidade e deixar seu dia muito mais feliz.
 - Que convencido. Tá bom. Bom dia pra você, beijos
 - Bom dia e até mais.
 Eu realmente fiquei muito feliz com a notícia, eu ainda era apaixonada por aquele homem, e ver ele depois de meses seria tudo de bom. Melhor ainda se ele ficasse na minha casa. Desde que Marina foi morar com o namorado novo eu me sentia meio sozinha. Uma companhia tão agradável quanto a de Gabriel seria tudo de bom. Eu o convenceria a ficar.
 A noite conversamos, tudo acertado. Gabriel vai passar esses dias que tem de ficar por aqui na minha casa.
 Passou a semana. E no domingo ele chegou, de noitinha, errou o caminho mais de uma vez. Cansado, nos abraçamos, conversamos um pouco. Ele foi tomar um banho. Depois do banho tivemos uma maior aproximação, estávamos tímidos até então. Nos beijamos e caímos na cama. Gabriel dormiu como se não houvesse amanhã, eu ainda li meu livro.
 Segunda- Feira. Eu precisava trabalhar, Gabriel nem tinha acordado. Deixei-o dormindo e fui. Ao meio-dia quando cheguei ele já havia sumido. Só chegou a tardinha, tinha ido a Flores da Cunha, pra onde retornaria a semana inteira.
 Depois de uma semana já estávamos como um casal de namorados que moram juntos. Íntimos e felizes, cheios de brincadeiras. Colocamos as roupas dele num espaço do meu roupeiro. No final de semana saímos. Na semana seguinte ele ficaria por Caxias, seu pai estava tentando fazer negócio com uma empresa daqui. Ficamos tão bem, tão juntinhos. A semana passou sem que nenhum enjoasse do outro. E ele precisou de mais uma semana pra terminar tudo. Três semanas com alguém, o normal seria que eu já tivesse a mandado embora a muito tempo. E acabou seu trabalho pelo Rio Grande do Sul. Mas decidimos que ele ficaria só mais uma semana. Só mais uma. E ficou. E foi bom, ele já não trabalhava mais, Dr. Marcone havia viajado naquela semana e ficaria fora até a quinta-feira, eu podia fechar o escritório mais cedo. Namoramos muito, saímos, e comemos bastante também.
 Infelizmente ele iria ir embora depois daquele final de semana. Eu estava com saudade antes de ele partir, passamos um mês juntos e foi como se tivesse sido só um dia. Eu precisava de um pouco mais dele, um pouco mais tipo muito. Ajudei ele com as roupas, mas demorou minutos para que eu pudesse colocar a primeira peça dentro da mala eu ficava olhando-a e pensando como ela se encaixou bem no espaço do meu roupeiro.  Depois de quase uma hora fechamos ela.  Amanhã cedo ele parte pra quase 700km longe de mim. Fomos dormir tristes, depois de uma transa espetacular. Logo cedo acordamos, fiz café, enchi a térmica dele para viagem. Colocou a mala no carro. Me levou trabalhar, nos despedimos. Subi até o andar que trabalho com um vazio interno e querendo loucamente ligar pra ele e dizer "fica mais um pouco, por favor" mas sabia que ele tinha que ir, seus compromissos o esperavam lá. Porem, saí do elevador e liguei pra ele:
- Oi.
- Oi, aconteceu alguma coisa?
Não respondi e fiz outra pergunta:
- Já saiu da cidade?
- Não. Hoje tem trânsito, nossa! Mas por quê? O que foi?
- Deve ser porque tu deveria ficar na cidade mais um tempo. Eu sei que tu tem compromissos, desculpa por ser imatura ao não entender isso, mas não dá pra ti adiar eles? Só mais um pouquinho?
- Jéssica, me desculpe. Eu gostaria de ficar mais um pouco. Mas meus compromissos são inadiáveis.
- Ta bem. Que pena. Mas pelo menos eu tentei. Agora tenho que desligar, to entrando no escritório. Boa viagem, se cuida.
- Desculpa meu amor, eu ligo quando chegar. Bom trabalho.
- Ok. Beijos.
- Beij...tu-tu-tu
Desliguei antes que ele terminasse de falar, eu não estava entrando no escritório. Estava apenas sentada em uma das cadeiras da sala de espera. Se sentindo envergonhada pelo papel de boba apaixonada que tinha acabado de fazer. Como eu conseguia ser tão irracional? Onde estava a antiga eu? Gabriel entrava em cena e eu ficava totalmente sem paixão própria.
Entrei no escritório, ocupei minha mesa de secretária, dei uma olhada na agenda de compromissos do dr. Marcone, e me dei conta que não peguei os postais no balcão da entrada, fui até lá pegar. Ele iria chegar só as 10 horas hoje. Pensei em descer até o andar de baixo conversar com a Marina, e então fui, pelas escadas. Deixei meu celular no escritório, descendo o primeiro degrau ouço-o tocar e então volto, era Gabriel. Será que aconteceu alguma coisa?
- Oi, aconteceu alguma coisa?
- Oi, aconteceu.
- O que foi?
- Aconteceu que você esqueceu de deixar a chave reserva e eu estou pra fora de casa.
- Como é? Esqueceu alguma coisa?
- Esqueci sim, você.
- Como assim?
- Posso ficar mais alguns dias?
- Claro que sim. Que bom!
- Posso passar ai pegar a chave? Não tenho pra onde ir.
- Sim, amor.
Eu gostava do modo como nos chamávamos de amor, era fofo. E ele tinha ficado, que lindo. Desci, entreguei as chaves, lhe dei uns beijinhos e voltei ao trabalho.
Ele queria ficar, talvez precisasse ir, mas queria ficar. Eu só precisava pedir pra que ele ficasse. Só precisava demonstrar que era isso que eu queria.
Ele queria ficar pra sempre, no entanto ficou apenas mais duas semanas. Eu não podia pedir pra que ficasse mais, seria extrapolar. E ele também definitivamente sabia que agora era definitiva a viagem de volta. Com muita tristeza ele foi, e a saudade não ajudava em nada. Eu sabia que estava amando-o e que isso não iria prestar.

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